Opinião: O emprego que eu sempre quis, mas nunca soube que existia.


por Jon Steel.
Estou escrevendo este texto por acidente.




Veja só. Não era pra eu trabalhar com publicidade. Eu deveria estar ensinando geografia e treinando o time de cricket de alguma escola particular. Se um dia tive um plano, foi esse.

Mas 25 anos depois de sair da universidade, passei minha vida toda trabalhando com publicidade. Fui diretor de uma agência de Londres depois de 5 anos; em 10 era sócio de uma outra agência em San Francisco. Desde 2002 trabalho para o Sir Martin Sorrell na WPP, um dos maiores grupos de marketing e comunicação do mundo.

Então, onde foi que errei?

Tudo começou quando um amigo me sugeriu tentar um emprego em uma agência. Ele me disse que todos os bons trabalhos estavam em Londres. E em Londres, ele disse que conhecia várias garotas adoráveis.

Pareceu-me bem atrativo. Assim que comecei a pesquisar sobre o negócio e sobre as exigências para recém formados, a área de publicidade pareceu servir muito bem para mim. Em um ano que passei trabalhando no sindicato dos estudantes da minha universidade, fui responsável pelo jornal e pela estação de rádio além de gerenciar alguns funcionários. Disseram que eu escrevia razoavelmente. Eu tinha um bom diploma. Mesmo sem as garotas, eu gostei da ideia.

Inscrevi no processo de seleção de 15 agências para uma vaga de atendimento (o atendimento é a pessoa que representa o negócio do cliente dentro da agência). Em poucas semanas, eu havia sido rejeitado por 14 delas, incluindo todas as agências principais que hoje são da WPP. Na última, a BMP, perguntaram se eu não preferia ser planejador. Quando admiti que nunca tinha ouvido nada sobre essa função, meu entrevistador explicou que planejadores usavam pesquisa sobre consumidores para ajudar na criação de estratégias publicitárias. Disse a ele que não me agradou muito.

A BMP, então, me contratou como atendimento, mas só quando o candidate preferido deles rejeitou a proposta por outra com melhor remuneração. Em 6 meses, fui transferido do atendimento para o planejamento. (Dentro da agência, vi o trabalho sob uma nova perspectiva e descobri que era mais interessante do que eu jamais havia imaginado.) Depois de 5 anos, fui surpreendido ao encontrar-me dirigindo o departamento de planejamento de uma agência em San Francisco, onde fiquei por uma década. No meu retorno ao Reino Unido – também inesperado – encontrei-me trabalhando, diariamente, na gestão de agências como Ogilvy & Mather, Grey, Young & Rubicam e J. Walter Thompson – todas aquelas que haviam me rejeitado no início.

Minha carreira tem sido cheia de acidentes, e isso tem sido enriquecido por outras pessoas que foram parar em trabalhos que sempre quiseram mas nunca souberam que existiam. Na BMP, fui treinado sobre publicidade por um homem formado em engenharia aeronáutica, e por outro graduado em literatura clássica; nos anos seguintes, contratei advogados, médicos, engenheiros, e até um treinador de baleias-orca. Todos eles perceberam ao longo do caminho que não queriam mais ser advogados, engenheiros ou (surpreendentemente) treinadores de baleias-orca.

Digo isso por 3 razões principais:

Primeiro, focar e ter um plano não é o melhor caminho. Ao longo dos anos, encontrei uma infinidade de pessoas infelizes que estavam fazendo os trabalhos que seus pais e professores sempre quiseram que eles fizessem. Tenho certeza de que há várias pessoas lá for a entrando em carreiras de professor, administração, direito, ou qualquer outra coisa, que gostariam de estar se divertindo no negócio do marketing e comunicação se soubessem o que ele tem a oferecer.

Segundo, ser rejeitado não é o fim do mundo. No meu caso, foi, certamente, algo bom que todas aquelas agências me rejeitassem quando tinha 20 anos, pois, mais tarde, percebi que não seria feliz na maioria delas. Na minha primeira agência, encontrei o trabalho perfeito, em um ambiente que tinha tudo a ver com minha personalidade. Em outros lugares, eu seria um peixe fora d’água. Em todas as rejeições, também aprendi algumas lições importantes e, no final, além de uma dose de sorte, fui capaz de colocá-las em bom uso.

Meu ultimo ponto é relacionado à minha experiência com rejeições. Todo dia, como diretor do Marketing Fellowship Programme da WPP, tenho que dizer não a quase 1.000 inscritos, mas quando faço isso, sempre tento lembrar como me senti quando recebi tais péssimas notícias. Naquela época, as notícias vieram em uma carta. Geralmente começavam com ‘Prezado Sr. Steel’. Outras diziam ‘Prezado candidato’. Uma, para minha surpresa, começava com ‘Prezada Shirley’. No entanto, um diretor de recrutamento dedicou tempo a me escrever uma carta pessoas, e nunca esqueci isso. O diretor executivo da BMP, na verdade, dedicou tempo para me ligar depois da minha primeira entrevista e explicou o que estava acontecendo. Agora, não consigo fazer 1.500 ligações, mas sempre ligo para os cento-e-poucos entrevistados e dou um feedback sobre o encontro. Se eles não passaram, eu explico o porquê.

É impossível deixar todo mundo feliz ao dizer que ele não conseguiu, que a resposta é ‘não’. Mas você nunca deve esquecer que quando ouve essa maldita palavra, pode significar o começo de algo muito melhor.

John Steel é Diretor do Marketing Fellowship Programme da WPP e autor dos livros ‘A Arte do Planejamento’ e ‘Perfect Pitch’. É formado em Geografia.

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